Estudo alerta para risco de perda de visão em usuários de Ozempic e Mounjaro

Estudo identifica nove casos de perda parcial de visão em usuários de Ozempic e Mounjaro, sugerindo possível ligação com complicações oftalmológicas graves.

Estudo alerta para risco de perda de visão em usuários de Ozempic e Mounjaro

Pesquisa identifica nove casos de complicações oculares graves associadas aos medicamentos para diabetes e emagrecimento

Pesquisadores de seis instituições americanas, incluindo a Universidade de Utah, publicaram no JAMA Ophthalmology um estudo que documenta nove casos de problemas oculares graves em pacientes que utilizavam medicamentos como Ozempic e Mounjaro. A pesquisa, divulgada em fevereiro de 2025, revela que sete pacientes desenvolveram neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAION), uma condição que pode causar perda súbita e permanente da visão, enquanto outros apresentaram papilite bilateral e maculopatia média aguda paracentral.

Complicações oculares e mecanismos potenciais

Os medicamentos analisados contêm os princípios ativos semaglutida (Ozempic, Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro, Zepbound), amplamente utilizados para tratamento de diabetes tipo 2 e, mais recentemente, para perda de peso. Segundo os pesquisadores, os pacientes afetados apresentaram características atípicas em seus quadros clínicos, incluindo neuropatia óptica isquêmica sequencial e inchaço bilateral do disco óptico.

Uma hipótese para explicar essas complicações está relacionada à rápida redução dos níveis de açúcar no sangue. “A melhoria rápida no controle glicêmico pode criar estresse isquêmico no nervo óptico e nos tecidos da retina”, explica um especialista em oftalmologia envolvido no estudo. Os pacientes analisados experimentaram reduções significativas na hemoglobina A1c, passando de níveis entre 8,4% e 10,2% para 5,5% a 6,7% após iniciarem o tratamento.

Além disso, a presença de receptores GLP-1 no nervo óptico humano e o aumento da atividade do sistema nervoso simpático induzido por agonistas desses receptores podem aumentar a suscetibilidade à NAION, conforme apontam os pesquisadores.

Evidências crescentes de risco aumentado

Um estudo complementar realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard sugere que usuários de semaglutida podem ter um risco até 4,28 vezes maior de desenvolver NAION em comparação com pacientes que utilizam outros medicamentos para diabetes. Outro estudo da Universidade do Sul da Dinamarca chegou a conclusões semelhantes, indicando que o risco de NAION mais que dobra para pacientes tomando semaglutida.

“A incidência de NAION é de 2 a 10 casos por 100.000 pessoas, tornando-a a segunda causa mais comum de cegueira devido a danos no nervo óptico”, destaca um dos pesquisadores. Apesar de rara, a condição é grave e frequentemente resulta em perda permanente da visão.

Sintomas de alerta e recomendações

Os especialistas recomendam que usuários desses medicamentos fiquem atentos a sintomas como:

  • Visão embaçada ou distorcida
  • Perda súbita de visão, especialmente em um olho
  • Manchas escuras no campo visual
  • Alterações na percepção de cores
  • Novos “floaters” (pontos flutuantes) no campo visual

“É fundamental monitorar quaisquer mudanças repentinas na visão e relatar esses sintomas imediatamente ao médico”, alerta um oftalmologista especializado em doenças da retina. “Pacientes com histórico de retinopatia diabética devem informar seu médico antes de iniciar o tratamento com esses medicamentos.”

Os fabricantes dos medicamentos já incluem alertas sobre possíveis complicações oculares nas bulas, especialmente para pacientes com diabetes. A Eli Lilly, fabricante do Mounjaro, lista “efeitos colaterais oculares ou alterações na visão, incluindo visão turva” entre os efeitos colaterais graves que requerem atenção médica imediata.

Embora a relação causal direta ainda não tenha sido definitivamente estabelecida, os pesquisadores enfatizam a necessidade de mais estudos e vigilância contínua. Por enquanto, recomendam que pacientes não interrompam o tratamento sem orientação médica, mas mantenham acompanhamento oftalmológico regular, especialmente aqueles com fatores de risco pré-existentes.

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