

Feminicídio em MS: jovem mata mulher que mantinha relacionamento com seu pai
Crime em Itaquiraí revela trama de violência doméstica e conflitos familiares
Simone da Silva, de 35 anos, foi vítima de feminicídio na quarta-feira (14/05) em Itaquiraí, a 405 quilômetros de Campo Grande. William Megaioli Ebbing, de 22 anos, filho do companheiro da vítima, confessou o crime e se entregou à polícia com a arma utilizada no assassinato. Este é o décimo caso de feminicídio registrado em Mato Grosso do Sul apenas neste ano.
Detalhes do crime
O feminicídio ocorreu na residência da vítima, onde Simone foi assassinada a tiros na frente dos filhos. O filho mais velho dela, um adolescente de 14 anos, presenciou os disparos e usou o celular da mãe para acionar a polícia e pedir ajuda a uma tia.
Após cometer o crime, William fugiu do local, mas horas depois se apresentou na 1ª Delegacia de Polícia de Naviraí, acompanhado de sua advogada. Na ocasião, ele entregou às autoridades o revólver calibre .38 utilizado no crime, que ainda continha duas munições deflagradas.
De acordo com o boletim de ocorrência, o caso foi registrado como feminicídio com agravante e porte ilegal de arma de fogo. A classificação como feminicídio se deve ao fato de o crime ter sido cometido contra uma mulher por razões da condição de gênero, conforme previsto na Lei 13.104/2015.
Contexto familiar
Segundo relatos da mãe de William, que pediu para não ser identificada, o crime foi resultado de um conflito familiar que se arrastava há aproximadamente dois anos. Ela afirmou que seu marido mantinha um relacionamento extraconjugal com Simone, sem oficializar a separação.
“Ele batia no meu filho, humilhava com palavras, dizia coisas horríveis. Isso vinha acontecendo há muito tempo. Meu filho não aguentou mais”, relatou a mãe do suspeito. Ela também alegou que sofria violência doméstica do marido e que ele planejava substituí-la por Simone na padaria da família.
Na véspera do crime, o pai de William teria chegado em casa embriagado e portando a arma que posteriormente seria utilizada no assassinato. Conforme o relato da mãe, ele chegou a efetuar disparos para o alto, o que levou William a esconder a arma enquanto o pai dormia.
“Meu filho pediu a arma, mas ele não quis entregar. Depois que ele dormiu, o William escondeu a arma. Ele me disse: ‘Vou esconder, senão o pai mata a gente'”, contou.
Na manhã do crime, durante mais uma discussão familiar, William teria perdido o controle. “Ele falou: ‘É por causa daquela mulher que você está fazendo isso tudo. Eu vou matar ela.’ Eu tentei impedir, mas ele saiu e fez o que fez”, relatou a mãe.
Desdobramentos legais
Além da prisão de William pelo feminicídio, o pai do suspeito também foi detido pelas autoridades. A esposa dele solicitou medida protetiva após alegar que também foi vítima de agressões e ameaças por parte do marido.
O caso ilustra como crimes de ódio, especialmente aqueles motivados por questões de gênero, frequentemente estão inseridos em contextos mais amplos de violência doméstica e familiar. Especialistas apontam que o feminicídio geralmente é o desfecho trágico de um ciclo de violência que poderia ser interrompido com intervenções adequadas.
A investigação segue em andamento para esclarecer todos os detalhes do crime e as responsabilidades de cada envolvido. O suspeito permanece à disposição da Justiça e deverá responder por feminicídio qualificado, crime considerado hediondo pela legislação brasileira, com penas que variam de 12 a 30 anos de reclusão.
Estatísticas de feminicídio em MS
O assassinato de Simone da Silva é o décimo caso de feminicídio registrado em Mato Grosso do Sul apenas em 2025. Apenas quatro dias antes, Thácia Paula Ramos também foi vítima de feminicídio no estado, evidenciando a gravidade e recorrência desse tipo de crime.
Segundo dados de pesquisas sobre crimes de ódio no Brasil, o feminicídio representa cerca de 10,65% dos crimes motivados por preconceito no país. Estudos indicam que em 33,2% dos homicídios de mulheres no mundo, os crimes são cometidos por parceiros ou ex-parceiros.
O Brasil ocupa a quinta posição no ranking mundial de feminicídios, com 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, de acordo com o Mapa da Violência. Esses números alarmantes reforçam a necessidade de políticas públicas efetivas para prevenção e combate à violência contra a mulher.
Especialistas ressaltam a importância de identificar sinais de violência doméstica e familiar antes que culminem em feminicídio. A denúncia precoce e o acesso a redes de apoio são fundamentais para proteger potenciais vítimas e interromper ciclos de violência.
Última atualização: 15 de maio de 2025
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