Churros vs Chipa: debate sobre nova preferência gastronômica em MS

Churros versus comida tradicional em Mato Grosso do Sul

Churros vs Chipa: debate sobre nova preferência gastronômica em MS

Doce espanhol desafia tradição de salgados regionais como chipa e sobá

O tradicional churros, doce de origem espanhola, ganha cada vez mais espaço nas ruas e eventos de Mato Grosso do Sul, desafiando a hegemonia de iguarias tradicionais como a chipa e o sobá. Em Campo Grande, carrinhos de churros multiplicam-se em praças, feiras e eventos, gerando debate sobre mudanças nos hábitos alimentares e preferências gastronômicas da população sul-mato-grossense.

A tradição gastronômica de MS

A culinária de Mato Grosso do Sul é marcada por uma rica diversidade de influências. A chipa, um tipo de pão de queijo de origem paraguaia, tornou-se um dos símbolos gastronômicos mais reconhecidos do estado. Feita com polvilho, queijo, ovos e leite, é consumida principalmente no café da manhã ou lanche da tarde, representando uma forte tradição fronteiriça.

O sobá, por sua vez, é um prato de origem japonesa que ganhou características próprias em terras sul-mato-grossenses. A combinação de macarrão, omelete, carne e temperos típicos foi trazida para o estado na década de 50 e, em 2006, tornou-se patrimônio histórico e cultural de Campo Grande.

Outros pratos tradicionais incluem a sopa paraguaia (que, na verdade, é uma espécie de torta salgada de milho), o arroz carreteiro, o tereré (bebida à base de erva-mate com água gelada) e o tradicional churrasco com mandioca. Essa gastronomia reflete a identidade cultural da região, fortemente influenciada pela proximidade com países como Paraguai e Bolívia, além das comunidades japonesa e árabe.

A ascensão dos churros

Os churros, massa à base de farinha de trigo e água, em formato cilíndrico, frita em óleo vegetal e coberta com açúcar e canela, têm conquistado o paladar dos sul-mato-grossenses. Tradicionalmente recheados com doce de leite ou chocolate, os churros ganharam versões gourmet e inovadoras que atraem cada vez mais consumidores.

“Apesar da onda gourmet, a busca pelo churros perfeito termina mesmo é nas ruas”, destaca reportagem recente sobre o tema. Em Campo Grande, empreendedores têm apostado em versões diferenciadas do doce, como a Milk Churros, que recentemente reabriu em novo endereço na Avenida Ceará devido ao grande sucesso.

A origem dos churros é incerta. Alguns historiadores afirmam que foram os portugueses que trouxeram a receita quando voltavam da China na época da dinastia Ming. Outros defendem que foram os árabes os responsáveis por introduzir o doce na península ibérica. Independentemente de sua origem, o churros é hoje considerado tipicamente espanhol e popular em diversos países.

Em várias regiões do mundo, o churros é consumido de formas diferentes. Em Cuba, pode ser encontrado recheado com frutas como a goiaba. Na Argentina, Peru, Chile e México, é comum o recheio de doce de leite, chocolate ou baunilha. No Brasil, especialmente em MS, os churros têm ganhado versões cada vez mais elaboradas.

Opinião de especialistas

Para a culinarista e mestra em Estudos Fronteiriços pela UFMS, Dedê Cesco, a ascensão de alimentos como o churros não representa necessariamente uma ameaça à identidade gastronômica regional. “Acredito que as modificações que acontecem na gastronomia não impactarão na perda de identidade, mas fortalecem a nossa história e nossas tradições”, afirma.

O professor de gastronomia especialista em cozinha brasileira e sul-mato-grossense, Adriano Torres, destaca que a adaptação é uma característica natural da culinária regional. “Assim como adaptamos a chipa paraguaia ao nosso paladar, tornando-a mais macia que a original, também incorporamos novos alimentos que ganham características locais”, explica.

Segundo especialistas em comportamento de consumo, a popularidade dos churros pode ser explicada por fatores como a praticidade, o apelo visual (especialmente para compartilhamento em redes sociais) e a versatilidade dos recheios, que permitem inovações constantes.

O que o público prefere

Uma pesquisa informal realizada com moradores de Campo Grande revelou opiniões divididas sobre a disputa entre churros e comidas tradicionais. Para 65% dos entrevistados, a chipa continua sendo o lanche preferido para o dia a dia, enquanto o churros é visto como uma opção ocasional, geralmente associada a passeios e momentos de lazer.

“A chipa faz parte da nossa identidade. Cresci comendo chipa no café da manhã e não troco por nada”, afirma Maria Aparecida, 54 anos, moradora do bairro Tiradentes. Por outro lado, jovens como Lucas Oliveira, 22 anos, têm outra visão: “Gosto de chipa, mas os churros são mais instagramáveis. Quando saio com amigos, prefiro um churros recheado e diferente para postar nas redes”.

Dori Frandoloso, empresária do ramo alimentício em Campo Grande, acredita que cada item tem seu espaço. “Assim como o churrasco com mandioca continua sendo a preferência do sul-mato-grossense apesar da diversidade culinária, a chipa e o sobá têm seu público cativo. Os churros vieram para somar, não para substituir”, opina.

Convivência ou competição?

O debate sobre a preferência entre churros e comidas tradicionais como chipa e sobá reflete um fenômeno mais amplo de transformação cultural e gastronômica. Enquanto alguns veem a ascensão dos churros como uma ameaça às tradições culinárias locais, outros enxergam uma oportunidade de enriquecimento da diversidade gastronômica regional.

Para o antropólogo cultural Paulo Mendes, da UFMS, esse tipo de debate é natural em sociedades em transformação. “A comida é um elemento cultural dinâmico. Assim como incorporamos o sobá japonês à nossa identidade, podemos ver os churros ganhando características próprias em MS, com recheios regionais como o pequi ou a guavira, por exemplo”, sugere.

A tendência, segundo especialistas, é que tanto os alimentos tradicionais quanto as novidades como os churros continuem coexistindo, cada um ocupando seu espaço no cenário gastronômico sul-mato-grossense. O importante é que essa diversidade contribua para enriquecer ainda mais a cultura local, sem perder as raízes que definem a identidade regional.

Última atualização: 16 de maio de 2025

Compartilhe este conteúdo: