

Falsificação de bebidas em Campo Grande: homem lucrava R$ 20 mil por semana
Polícia prende fabricante de uísque falso após seis meses de investigação
A Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) prendeu Manoel Valencio Neto, de 31 anos, na tarde de quinta-feira (15/05) em Campo Grande. O homem fabricava e vendia uísque falsificado em uma residência na Vila Eliane, lucrando aproximadamente R$ 20 mil por semana com o esquema criminoso que operava há pelo menos 10 meses.
Como funcionava o esquema
O método de falsificação era relativamente simples, mas altamente lucrativo. Manoel comprava extrato de malte de baixo custo, conhecido como Black Stone, vendido a cerca de R$ 30, e o misturava com saborizantes para imitar o gosto de bebidas importadas. Em seguida, engarrafava a mistura em recipientes de marcas renomadas como Red Label e Jack Daniel’s.
Para dar aparência de autenticidade aos produtos, o falsificador utilizava selos públicos falsificados, tampas e dosadores que imitavam os originais. A polícia descobriu que os selos não eram impressos em papel moeda e não seguiam os padrões da Casa da Moeda, evidenciando a falsificação.
“As garrafas comercializadas traziam selos de importação do Paraguai e não tinham informações em língua portuguesa, o que já contraria a legislação vigente”, explicou um dos investigadores. Essa ausência de informações em português é uma das formas mais simples de identificar produtos importados ilegalmente ou falsificados.
O esquema representava sério risco à saúde pública, já que a produção ocorria sem qualquer controle sanitário ou higiene adequada. Especialistas alertam que o consumo de bebidas adulteradas pode causar desde intoxicações leves até problemas graves, como cegueira ou morte, dependendo das substâncias utilizadas.
Lucro e dimensão do negócio ilegal
A operação clandestina tinha uma produção impressionante. Segundo as investigações, Manoel vendia cerca de 72 garrafas por dia de segunda a quinta-feira. Nos finais de semana, o número saltava para aproximadamente 200 garrafas diárias.
Com essa produção, o lucro semanal chegava a R$ 20 mil, o que representaria mais de R$ 80 mil mensais obtidos de forma ilícita. Em um ano de atividade, o esquema pode ter movimentado quase R$ 1 milhão, considerando apenas o lucro líquido.
A Decon já havia localizado bebidas adulteradas em três regiões diferentes da capital: Moreninhas (3 garrafas), Jardim Centenário (50 garrafas) e Carandá Bosque (4 garrafas). Isso demonstra a amplitude da rede de distribuição, que atingia diferentes perfis de consumidores em bairros distintos da cidade.
Ciente de que estava sendo investigado, Manoel chegou a mudar o endereço da produção e trocar de veículos para dificultar o rastreamento policial. No entanto, essas medidas não foram suficientes para impedir sua captura.
O que foi apreendido
Durante a operação, a polícia apreendeu um verdadeiro arsenal de falsificação e bens adquiridos com o dinheiro do crime:
- 87 garrafas já envasadas com a mistura falsificada
- 551 selos públicos falsos
- 160 tampas de marcas famosas
- 116 dosadores
- Equipamentos como selador térmico e soprador para adulteração de rótulos
- Um veículo BMW
- Uma motocicleta Kawasaki
- Pulseiras de ouro
- Relógios de marca
- 21 garrafas vazias de bebidas importadas caras
- 47 garrafas vazias de uísque nacional
- 4 garrafas pet com produtos para dar sabor e aroma aos uísques adulterados
A quantidade de material apreendido revela a escala da operação ilegal e como o dinheiro obtido era convertido em bens de luxo. “Ele ostentava uma vida muito acima do que seria compatível com qualquer trabalho formal”, comentou um dos policiais envolvidos na operação.
Investigação e prisão
A Decon investigava Manoel há aproximadamente seis meses, após receber diversas denúncias sobre a comercialização de bebidas falsificadas. Na tarde de quinta-feira, os policiais faziam campana em frente à residência quando o viram saindo em seu veículo BMW.
No momento da abordagem, Manoel transportava seis caixas de bebidas no carro. Ao vistoriarem a casa, os agentes confirmaram que o local funcionava como uma central de produção de bebidas falsificadas.
“Ele não se pronunciou. Conversamos por telefone, mas ele não me passou nenhuma informação. Nos falamos apenas sobre a decisão dele de ficar em silêncio, já que ainda não tínhamos conhecimento dos autos”, declarou o advogado de defesa, Raimundo Rodrigues Nunes Filho. A audiência de custódia deve ocorrer no sábado ou domingo.
Manoel foi preso em flagrante e levado para a sede da Decon. O caso foi registrado como “vender ou ter em depósito mercadoria imprópria para consumo e com embalagem irregular”, crimes previstos no Código de Defesa do Consumidor.
Como identificar bebidas falsificadas
Para evitar cair em golpes semelhantes, especialistas recomendam alguns cuidados na hora de comprar bebidas alcoólicas:
- Verifique se há informações em português na embalagem (obrigatório por lei)
- Observe a qualidade da impressão do rótulo e do selo
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado
- Compre apenas em estabelecimentos confiáveis
- Verifique se a tampa está devidamente lacrada
- Observe a cor e consistência da bebida
A falsificação de produtos não é apenas um crime contra as relações de consumo, mas também representa um risco à saúde pública. Consumidores que identificarem produtos suspeitos podem denunciar à Decon ou aos órgãos de defesa do consumidor.
Última atualização: 16 de maio de 2025, 10:30h
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