Atropelamento em Dourados: ciclista venezuelano morre na BR-163

Ciclista venezuelano de 46 anos morre atropelado por micro-ônibus que invadiu ciclovia na BR-163 em Dourados. Motorista fugiu do local sem prestar socorro.

Atropelamento em Dourados: ciclista venezuelano morre na BR-163

Motorista de micro-ônibus fugiu após invadir ciclovia e atingir trabalhador

Um ciclista venezuelano de 46 anos, identificado como Anyelo Neptali Lorant Ramos, morreu na manhã deste sábado (17) após ser atropelado por um micro-ônibus na BR-163, em Dourados, a 251 quilômetros de Campo Grande. O atropelamento ocorreu quando a vítima pedalava pela ciclovia localizada no canteiro central da rodovia, após sair do turno de trabalho no frigorífico JBS.

Circunstâncias do acidente

O acidente aconteceu por volta das 7h da manhã, na saída para Campo Grande. Anyelo pedalava pela ciclovia quando foi atingido por trás pelo micro-ônibus que invadiu o espaço destinado aos ciclistas. O impacto foi tão violento que o veículo saiu da pista e derrubou uma placa de sinalização.

Segundo testemunhas, o motorista do micro-ônibus fugiu do local sem prestar socorro à vítima. “Foi um ataque covarde, pelas costas. Ele não teve chance de defesa”, relatou o sargento Marcos Vieira, da Polícia Militar, que atendeu a ocorrência.

O corpo do ciclista foi encontrado com ferimentos gravíssimos, incluindo vísceras expostas na pista. Ao lado dele estava sua bicicleta completamente destruída. A perícia foi acionada para realizar os levantamentos necessários no local do acidente.

A empresa responsável pelo veículo fica às margens da própria BR-163, nas proximidades do Pesqueiro Canoas. Um representante da empresa alegou que o motorista retornou ao local após o acidente, versão que foi desmentida por testemunhas e pela polícia.

Quem era a vítima

Anyelo Neptali Lorant Ramos, de 46 anos, era natural da Venezuela e trabalhava no frigorífico JBS em Dourados. O acidente ocorreu justamente quando ele retornava para casa após seu turno de trabalho.

Segundo informações apuradas pela reportagem, Anyelo morava no Residencial Eucalipto, a aproximadamente 1.500 metros do local do acidente. Como muitos trabalhadores da região, ele utilizava a bicicleta como principal meio de transporte para se deslocar até o trabalho.

A comunidade venezuelana em Dourados, que cresceu nos últimos anos devido à crise humanitária no país de origem, lamentou profundamente a perda. “Era um trabalhador dedicado que veio para o Brasil em busca de melhores condições para sua família”, comentou Juan Perez, representante da associação de venezuelanos na cidade.

Ação das autoridades

Após o acidente, equipes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Civil foram mobilizadas para atender a ocorrência e iniciar as investigações. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) também foi acionado, mas apenas constatou o óbito no local.

As equipes da Polícia Civil se dirigiram à garagem da empresa proprietária do micro-ônibus para localizar o motorista envolvido no atropelamento. Ao chegarem, foram informados que o condutor havia se apresentado na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário).

Segundo informações preliminares, o motorista alega estar em estado de choque após o acidente. O veículo foi apreendido e está sendo periciado para ajudar nas investigações sobre as causas do acidente.

A polícia investiga se o motorista estava em alta velocidade ou se houve falha mecânica no veículo. O caso foi registrado como homicídio culposo na direção de veículo automotor, com o agravante de não ter prestado socorro à vítima.

Segurança para ciclistas nas rodovias

Este trágico acidente reacende o debate sobre a segurança de ciclistas em rodovias brasileiras. Segundo dados do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), apesar de reduções nos números de mortalidade de ciclistas nos últimos anos, o percentual dessas mortes em relação ao total de óbitos no trânsito permanece estável.

Rosely Fantoni, chefe de gerência de Educação de Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem, explica que os ciclistas podem usar as rodovias, mas precisam redobrar os cuidados. “O ciclista, além dos equipamentos de segurança – como capacete, óculos e luvas -, deve usar roupas refletoras”, orienta.

A especialista também recomenda que as bicicletas tenham iluminação adequada e que os ciclistas trafeguem à direita, quase na linha divisória do acostamento. “Quando os ciclistas estão em grupo, o ideal é ter um batedor na frente e um atrás para que possam estar protegidos”, acrescenta.

Por outro lado, motoristas devem manter distância mínima de um metro e meio ao ultrapassar ciclistas, conforme determina o Código de Trânsito Brasileiro. Desrespeitar essa regra configura infração gravíssima.

“Nós ainda não aculturamos a presença do ciclista, principalmente numa rodovia. No código de trânsito brasileiro, o maior sempre tem que proteger o menor. O ciclista é o mais vulnerável dentro desse processo”, conclui Fantoni.

Medidas preventivas

Especialistas em segurança viária recomendam algumas estratégias para reduzir acidentes envolvendo ciclistas:

  • Utilização de amortecedores de separação para reduzir a possibilidade de os ciclistas serem forçados a situações perigosas
  • Construção de redes de ciclismo que ofereçam aos ciclistas uma segregação completa do tráfego de veículos, como as ciclovias
  • Maior fiscalização nas rodovias, especialmente em trechos com alto fluxo de ciclistas
  • Campanhas educativas para motoristas e ciclistas sobre compartilhamento seguro das vias

Apesar do recente aumento do número de investimentos em infraestrutura cicloviária no Brasil, que resultou em um crescimento de 21% da malha cicloviária nas principais cidades brasileiras entre 2015 e 2017, esse montante representa apenas 3% do total de vias, segundo dados da Mobilize Brasil.

O caso de Anyelo evidencia a necessidade urgente de mais ações para proteger os ciclistas, especialmente aqueles que utilizam a bicicleta como meio de transporte para o trabalho.


Última atualização: 17 de maio de 2025, 10:30h

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