Parceria iFood e Uber: como a aliança responde à nova guerra do delivery

iFood e Uber anunciam parceria estratégica no Brasil em resposta à chegada do Keeta e retorno da 99Food. Entenda como a aliança muda o mercado de delivery.

Parceria iFood e Uber: como a aliança responde à nova guerra do delivery

Gigantes se unem após anúncio de R$ 8 bilhões em investimentos de concorrentes

O iFood e a Uber anunciaram na quarta-feira (14/05) uma parceria estratégica que permitirá a integração de seus serviços no Brasil. A aliança surge apenas um dia após a chinesa Meituan confirmar a chegada do aplicativo Keeta ao país com investimento de R$ 5,6 bilhões. A movimentação reacende a guerra no mercado brasileiro de delivery, que também conta com o retorno da 99Food e novos aportes da Rappi, totalizando mais de R$ 8 bilhões em investimentos anunciados por concorrentes.

Como funcionará a parceria

A integração entre iFood e Uber permitirá que usuários naveguem entre os serviços das duas empresas sem precisar trocar de aplicativo. No app do iFood, será criada uma nova aba de mobilidade que dará acesso direto às corridas da Uber. Já no aplicativo da Uber, a seção de entregas será substituída pelos serviços do iFood, permitindo pedidos de restaurantes, mercados, farmácias e lojas de conveniência.

“O objetivo do acordo é simplificar o dia a dia dos brasileiros ao disponibilizar os serviços de mobilidade e entrega nos dois aplicativos mais populares do país em suas respectivas áreas”, afirmou Diego Barreto, CEO do iFood, em comunicado oficial.

A implementação começará no segundo semestre de 2025 em cidades selecionadas, com expansão gradual para todo o país. Segundo as empresas, os programas de assinatura Uber One e Clube iFood continuarão operando separadamente, mas há estudos para uma possível integração futura.

“Hoje, apenas cerca de metade dos usuários usam as duas plataformas de maneira recorrente. Então, essa parceria representa mais um grande passo na nossa missão de ajudar as pessoas a irem a qualquer lugar e obterem qualquer coisa com um toque”, destacou Dara Khosrowshahi, CEO da Uber.

De rivais a parceiros: a história por trás da aliança

A parceria marca uma reviravolta na relação entre as duas empresas, que já foram rivais diretas no mercado brasileiro. O iFood, fundado em 2011, consolidou sua posição de liderança após receber aportes da Movile e passar por fusões estratégicas com empresas como RestauranteWeb entre 2012 e 2015.

A Uber entrou no mercado brasileiro de delivery em 2016 com o Uber Eats, mas nunca conseguiu ameaçar seriamente a dominância do iFood. Em 2020, a situação se tornou mais tensa quando Uber Eats e Rappi uniram forças para processar o iFood por supostas práticas anticompetitivas.

O cenário ficou ainda mais desfavorável para o Uber Eats em 2021, quando o iFood alcançou aproximadamente 80% do mercado brasileiro, enquanto o serviço americano detinha apenas cerca de 10%. Em 2022, a Uber jogou a toalha e encerrou as operações do Eats no Brasil, optando por focar em seu negócio principal de transporte de passageiros.

Entre 2023 e 2024, o iFood continuou dominando o mercado com aproximadamente 70% de participação. Agora, em 2025, as antigas rivais decidem unir forças diante de um cenário de crescente competição.

Novos players e bilhões em investimentos

A parceria entre iFood e Uber surge em um momento estratégico, quando o mercado brasileiro de delivery atrai investimentos massivos de competidores internacionais:

  1. Keeta (Meituan): A gigante chinesa confirmou na segunda-feira (12/05) um investimento de US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) para lançar seu aplicativo Keeta no Brasil. A empresa projeta contratar 100 mil entregadores parceiros em seu primeiro ano de operação e criar até 4 mil empregos em centrais de atendimento na região Nordeste.
  2. 99Food (Didi): Após encerrar suas operações em 2023, a 99Food anunciou seu retorno ao mercado brasileiro com um investimento de R$ 1 bilhão. A estratégia inclui isentar restaurantes de comissões e mensalidades por dois anos, permitindo que estabelecimentos fiquem com mais de 92% da receita líquida de um pedido, contra cerca de 74% nos apps tradicionais.
  3. Rappi: A plataforma colombiana anunciou no início de maio um investimento de R$ 1,4 bilhão na operação brasileira até 2028. Do total, 40% será direcionado à vertical de restaurantes, com o objetivo de crescer dez vezes nesse segmento até o fim do período. A empresa também está zerando taxas para restaurantes como parte de sua estratégia de crescimento.

“O Brasil é um grande mercado e com potencial ainda maior. É um privilégio poder contribuir para o seu crescimento econômico e para que os brasileiros tenham mais escolhas”, afirmou Wang Xing, fundador e CEO da Meituan, empresa por trás do Keeta.

Impacto no mercado e perspectivas futuras

O mercado brasileiro de delivery vive um momento de transformação acelerada. Segundo dados da Statista, o setor deve movimentar US$ 21,18 bilhões (aproximadamente R$ 119 bilhões) até o fim de 2025, com projeção de crescimento anual de 7,04% até 2029, quando poderá alcançar US$ 27,81 bilhões.

A chegada de novos players com investimentos bilionários e a aliança entre iFood e Uber prometem beneficiar diretamente os consumidores, que poderão contar com mais opções, melhores preços e promoções mais agressivas. Para restaurantes e entregadores, a intensificação da concorrência pode significar melhores condições e menores taxas.

“Estamos vendo uma guerra de taxas que beneficia diretamente os restaurantes. O que parecia um cenário consolidado até 2024, com predominância quase absoluta do iFood, passa agora por uma reconfiguração”, analisa Ricardo Souza, especialista em mercado digital e professor da FGV.

A tendência de consolidação do mercado, observada globalmente, indica que nem todos os players sobreviverão à batalha. Nos próximos anos, é provável que vejamos novas fusões, aquisições e parcerias estratégicas, à medida que as empresas buscam escala e eficiência operacional.

Para o consumidor final, o momento é de aproveitar a guerra de ofertas e a diversidade de opções. Já para investidores e empreendedores do setor, o cenário exige atenção constante aos movimentos estratégicos que devem continuar transformando o mercado de delivery no Brasil.


Última atualização: 17 de maio de 2025

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