“Terror do INSS”: como advogado processa 2.000 pedidos de BPC por mês

Conheça Maycon Matos, o "Terror do INSS", advogado que recebe 2.000 pedidos de BPC por mês usando estratégias nas redes sociais para explicar quem tem direito ao benefício.

“Terror do INSS”: como advogado processa 2.000 pedidos de BPC por mês

Maycon Matos usa redes sociais para explicar quem tem direito ao benefício de R$ 18 mil anuais

Conhecido como “Terror do INSS”, o advogado Maycon Matos, de 32 anos, recebe cerca de 2.000 solicitações mensais para processos de Benefício de Prestação Continuada (BPC). De seu escritório em Ouro Verde de Minas, cidade com menos de 6 mil habitantes no nordeste mineiro, ele conquistou mais de 320 mil seguidores nas redes sociais com vídeos didáticos que explicam como pessoas com deficiência, idosos e até crianças com autismo ou TDAH podem receber um salário mínimo mensal do governo.

Quem é o “Terror do INSS”

Maycon Matos transformou seu escritório de advocacia, localizado próximo à BR-342, em uma verdadeira central de atendimento para pessoas que buscam acessar benefícios do INSS. Apesar de estar baseado em uma pequena cidade do Vale do Mucuri, seu alcance é nacional graças à estratégia digital que adotou.

“A gente atende aqui em média umas 2.000 pessoas por mês. Atendo o Brasil todo de forma online, né? As pessoas me contatam via Instagram, via TikTok…”, explica o advogado, que se tornou o morador mais famoso de Ouro Verde de Minas.

O público-alvo de Matos são pessoas de baixa renda que muitas vezes desconhecem seus direitos ou não têm acesso a informações sobre como solicitar benefícios. Segundo ele, a maioria dos interessados não tem condições de pagar por consultas médicas particulares, etapa fundamental para obter os laudos necessários à solicitação do BPC.

“A gente orienta a procurar a Secretaria de Saúde do município para que o médico dê o diagnóstico e o laudo comprovando que é uma pessoa com deficiência ou a criança possui autismo ou TDAH”, detalha o advogado, com a mesma didática e fala pausada que utiliza em seus vídeos nas redes sociais.

Estratégia nas redes sociais

O sucesso do “Terror do INSS” está diretamente ligado à sua habilidade de comunicação nas plataformas digitais. Em sua biografia nas redes sociais, ele deixa claro seu propósito: “Eu ajudo você receber o seu benefício no INSS”.

Seus vídeos seguem uma fórmula simples e eficaz: explicações diretas sobre condições médicas que podem garantir o direito ao BPC, sempre destacando o valor anual do benefício como chamariz. “R$ 18 mil por ano é o valor que você pode receber do governo caso possuir a doença da coluna escoliose ou alguma das deficiências da legenda”, diz em um de seus vídeos mais populares, que já acumula 3,1 milhões de visualizações apenas no Instagram.

O conteúdo abrange uma ampla gama de condições médicas, incluindo ansiedade, artrite, bico de papagaio, fibromialgia, hérnia de disco e osteoporose. Recentemente, Matos tem dedicado boa parte de seus vídeos à possibilidade de pagamento do BPC para crianças com TDAH ou Transtorno do Espectro Autista (TEA).

“Eu ajudo crianças que possuem o autismo e o TDAH a conseguirem um benefício no INSS. Basta ter o laudo médico”, afirma em outro vídeo viral, que já ultrapassou 5,7 milhões de visualizações. “O laudo médico do seu médico particular vale tanto quanto o laudo médico do SUS”, complementa.

Seu vídeo mais popular, com 7,2 milhões de visualizações, não trata de nenhum problema de saúde específico, mas sim da possibilidade de donas de casa que nunca contribuíram com a Previdência receberem o benefício de R$ 18 mil anuais.

O que é o BPC e quem tem direito

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um programa assistencial garantido pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) que assegura um salário mínimo mensal a pessoas com deficiência e idosos com 65 anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.

Para ter direito ao BPC, é necessário que a renda per capita familiar seja inferior a 1/4 do salário mínimo vigente. Além disso, no caso de pessoas com deficiência, é preciso comprovar impedimentos de longo prazo (mínimo de 2 anos) de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que possam obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade.

“Muitas pessoas têm direito ao benefício, mas desconhecem ou enfrentam dificuldades no processo de solicitação”, explica a assistente social Maria Helena Oliveira, especialista em políticas públicas. “O INSS tem critérios rigorosos de avaliação, e muitos pedidos são negados inicialmente, mesmo quando o solicitante atende aos requisitos legais.”

É nesse contexto que atuam advogados especializados como Maycon Matos. Quando um pedido é negado administrativamente, o caminho judicial se torna uma alternativa, e é aí que o “Terror do INSS” entra em ação.

Controvérsias e questões éticas

A atuação de Matos levanta questões sobre a linha tênue entre o auxílio necessário aos desprotegidos e a busca por oportunidades no sistema previdenciário. Especialistas divergem sobre a abordagem utilizada pelo advogado.

“É importante que as pessoas conheçam seus direitos e tenham acesso a benefícios quando realmente se enquadram nos critérios legais”, pondera o advogado previdenciarista Carlos Eduardo Silva. “Por outro lado, a forma como algumas informações são apresentadas pode gerar expectativas irreais ou até mesmo incentivar tentativas de acesso indevido ao benefício.”

Dos clientes que conseguem o benefício, o escritório de Matos cobra honorários entre 30% e 40% do valor da causa, prática comum no meio jurídico. Quando questionado sobre quantos casos ganha por mês ou sobre sua renda, o advogado desconversa: “É segredo de Estado”.

O fenômeno do “Terror do INSS” reflete contradições do Brasil contemporâneo, como a desigualdade social, a busca por renda e o desconhecimento de direitos básicos por parte da população mais vulnerável. Ao mesmo tempo, levanta debates sobre a sustentabilidade do sistema previdenciário e a necessidade de políticas públicas mais eficientes.

“O que vemos é um espelho das tensões sociais brasileiras”, analisa o sociólogo Paulo Mendes. “De um lado, pessoas em situação de vulnerabilidade buscando acessar direitos que muitas vezes desconhecem. De outro, um sistema que nem sempre consegue atender adequadamente quem realmente precisa, abrindo espaço para intermediários que capitalizam sobre essa deficiência.”

Para o INSS, o aumento de pedidos judiciais representa um desafio adicional. A autarquia tem buscado aprimorar seus processos de avaliação e concessão de benefícios, mas enfrenta limitações estruturais e orçamentárias.

Enquanto isso, o “Terror do INSS” continua expandindo sua atuação nas redes sociais, levando informação sobre direitos previdenciários a milhões de brasileiros – com todas as complexidades e contradições que essa missão envolve.


Última atualização: 19 de maio de 2025

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