

Transporte coletivo em Campo Grande: espera de até 1h aos domingos
Passageiros enfrentam ônibus menos lotados, mas com intervalos maiores
Os usuários do transporte coletivo em Campo Grande enfrentam uma situação contraditória aos domingos: se por um lado os ônibus circulam menos lotados, por outro, o tempo de espera nos pontos e terminais pode chegar a uma hora. A reportagem realizada neste domingo (18/05) constatou a redução significativa da frota e ouviu passageiros que dependem do serviço no fim de semana.
Realidade nos terminais de Campo Grande
A situação nos principais terminais de ônibus da capital sul-mato-grossense reflete o dilema enfrentado pelos usuários. No Terminal Morenão, um dos mais movimentados da cidade, os bancos de espera permanecem ocupados durante todo o dia, com passageiros que chegam cedo para garantir um lugar sentado durante a longa espera.
“Nos dias de semana, o ônibus da minha linha passa a cada 20 minutos. Aos domingos, tenho que esperar quase uma hora”, relata Maria Aparecida Santos, 47 anos, moradora do bairro Nova Lima. Ela trabalha como cuidadora de idosos e precisa pegar dois ônibus para chegar ao serviço aos domingos.
No Terminal Bandeirantes, a situação não é diferente. Os intervalos entre os ônibus das linhas que atendem a região norte da cidade chegam a 50 minutos em alguns casos. Já no Terminal Nova Bahia, que atende a região oeste, os passageiros relatam esperas de até 65 minutos para algumas linhas.
A redução da frota aos domingos é visível nos terminais. Enquanto em dias úteis há constante movimento de chegada e saída de veículos, aos domingos as plataformas ficam vazias por longos períodos, com poucos ônibus circulando.
Relatos de quem depende do serviço
João Carlos Oliveira, 32 anos, trabalha em um supermercado no centro da cidade e depende do transporte coletivo para chegar ao trabalho aos domingos. “Saio de casa duas horas antes do meu horário porque já sei que vou esperar muito. Se perco o ônibus, posso me atrasar e ter problemas no trabalho”, conta.
A estudante Ana Luíza Ferreira, 19 anos, utiliza o transporte público para visitar a avó aos domingos. “Durante a semana, consigo me programar melhor porque os ônibus passam com mais frequência. Aos domingos, é sempre uma incerteza. Já fiquei mais de uma hora esperando”, relata.
Para Dona Tereza Gonçalves, 67 anos, que utiliza o transporte público para ir à igreja, a situação é ainda mais complicada. “Na minha idade, ficar tanto tempo em pé esperando é muito cansativo. Às vezes desisto e volto para casa, porque não aguento esperar tanto”, lamenta.
A reportagem acompanhou o tempo de espera em cinco pontos diferentes da cidade e constatou que o intervalo médio entre os ônibus aos domingos é de 47 minutos, enquanto nos dias úteis esse tempo cai para 22 minutos nas mesmas linhas.
Comparativo com dias úteis
A diferença entre o serviço oferecido nos dias úteis e aos domingos é significativa. Segundo dados da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), a frota que circula aos domingos corresponde a apenas 40% do total disponível durante a semana.
Em dias úteis, Campo Grande conta com aproximadamente 550 ônibus circulando nas 150 linhas que atendem a cidade. Aos domingos, esse número cai para cerca de 220 veículos, com redução também no número de viagens por linha.
“A redução da frota aos domingos é uma prática comum em sistemas de transporte público, mas o problema em Campo Grande é que essa redução não leva em conta as necessidades reais dos usuários”, explica Ricardo Martins, especialista em mobilidade urbana e professor da UFMS.
Ele destaca que muitos trabalhadores do comércio, serviços essenciais e indústrias precisam se deslocar aos domingos. “Há uma visão ultrapassada de que o domingo é dia de descanso para todos, mas a realidade econômica atual mostra que muitas pessoas trabalham nesse dia e dependem do transporte público”, complementa.
Posicionamento do consórcio e da prefeitura
Procurado pela reportagem, o Consórcio Guaicurus, responsável pela operação do transporte coletivo em Campo Grande, informou que a redução da frota aos domingos segue parâmetros técnicos baseados na demanda de passageiros, que seria 60% menor em relação aos dias úteis.
“Operamos de acordo com o contrato de concessão e as determinações da Agetran. A programação das linhas é feita com base em estudos de demanda, e ajustes podem ser realizados conforme necessidade”, afirmou o consórcio em nota.
A Agetran, por sua vez, informou que realiza fiscalizações periódicas para verificar o cumprimento dos horários e que está estudando a possibilidade de ajustes na grade de horários de algumas linhas aos domingos, especialmente aquelas que atendem regiões com maior concentração de comércio e serviços.
A Prefeitura de Campo Grande, através da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos, afirmou que o contrato de concessão prevê revisões periódicas da operação e que as reclamações dos usuários são consideradas nesse processo.
Perspectivas e possíveis soluções
Especialistas apontam que a solução para o problema passa por uma revisão do modelo operacional aos finais de semana, com base em dados atualizados sobre o fluxo de passageiros.
“É preciso um estudo detalhado sobre os deslocamentos aos domingos, identificando os principais corredores e horários de pico, para então ajustar a oferta à demanda real”, sugere a urbanista Carla Mendes, especialista em planejamento de transportes.
Entre as possíveis soluções estão:
- Implementação de linhas expressas aos domingos, ligando os principais terminais
- Reforço da frota em horários específicos, como início da manhã e final da tarde
- Utilização de veículos menores em linhas com menor demanda
- Sistema de monitoramento em tempo real para ajustes dinâmicos na operação
Para os usuários, a esperança é que a situação melhore. “Pagamos a mesma tarifa aos domingos, mas recebemos um serviço muito inferior. Precisamos de mais atenção das autoridades”, resume João Carlos, que continuará enfrentando a longa espera no próximo domingo.
Última atualização: 19 de maio de 2025
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