

Inadimplência empresarial recorde: 7,3 milhões de CNPJs no vermelho
Dívidas de empresas brasileiras somam quase R$ 170 bilhões, aponta Serasa
A inadimplência empresarial no Brasil atingiu um novo recorde histórico em março de 2025, alcançando a marca de 7,3 milhões de empresas com dívidas em atraso, segundo o Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian divulgado na última sexta-feira (16). O número representa um aumento de 100 mil empresas em relação a fevereiro, quando 7,2 milhões de CNPJs estavam negativados.
Dimensão do problema
O valor acumulado das dívidas também bateu recorde, chegando a R$ 169,8 bilhões em março, um crescimento de R$ 5,6 bilhões em comparação aos R$ 164,2 bilhões registrados no mês anterior. Este é o maior montante já registrado desde o início da série histórica do indicador em 2016.
Em média, cada empresa inadimplente possui cerca de 7,3 contas negativadas, com um ticket médio de R$ 3.186,80 por dívida. O total de empresas com nome sujo representa aproximadamente 31,9% de todos os negócios ativos no país, um aumento de 1 ponto percentual em relação ao mesmo período de 2024.
“Estamos diante de um cenário preocupante, onde praticamente um terço das empresas brasileiras enfrenta dificuldades para honrar seus compromissos financeiros”, explica Camila Abdelmalack, economista da Serasa Experian. “Este quadro reflete os efeitos prolongados de juros elevados, além das dificuldades de acesso ao crédito.”
Setores mais afetados
A análise setorial revela que o segmento de Serviços concentra a maior parte das empresas inadimplentes, representando 53% do total. Em seguida aparecem os setores de Comércio (34,8%), Indústria (8%), Outros (3,3%) – que contempla negócios do setor Financeiro e do Terceiro Setor – e Primário (1%).
Quando analisado pelo setor das dívidas, a maioria foi inadimplida no segmento de Serviços (31,6%), seguido por bancos e cartões (20,7%). Esta concentração no setor de Serviços reflete a vulnerabilidade deste segmento, que geralmente opera com margens menores e depende fortemente do capital de giro para manter suas operações.
“O setor de Serviços foi particularmente afetado nos últimos anos, primeiro pela pandemia e agora pelo cenário de juros elevados”, comenta o economista Felipe Tavares. “Muitas empresas deste segmento ainda tentam se recuperar dos impactos anteriores e não conseguem absorver novos choques financeiros.”
Impacto nas micro e pequenas empresas
As micro e pequenas empresas são as mais afetadas pela crise de inadimplência. Dos 7,3 milhões de CNPJs negativados, 6,9 milhões são de pequenos negócios, o que representa 94% do total. Juntas, essas empresas acumularam mais de 48 milhões de dívidas, totalizando um valor superior a R$ 146,2 bilhões.
“Esses negócios são os mais impactados porque, em geral, têm menor capital de giro, maior dependência do crédito bancário e menos margem para absorver oscilações do mercado”, destaca Abdelmalack. A vulnerabilidade das micro e pequenas empresas também está relacionada à dificuldade de acesso a linhas de crédito com condições favoráveis.
O microempresário Vitor Deldébbio Zica, dono de um lava-jato em Belo Horizonte, exemplifica a situação enfrentada por muitos pequenos empreendedores. Ele precisou fazer empréstimos para pagar as contas e os salários dos funcionários: “Pior seria se você não consegue pagar os seus custos e fica devendo com fornecedores, aluguéis, e aí inviabiliza o seu negócio”, relata.
Distribuição geográfica da inadimplência
A análise regional mostra uma distribuição desigual da inadimplência pelo país. Os três estados com as maiores taxas de empresas com nome sujo em março foram:
- Distrito Federal (40,9%)
- Alagoas (40,3%)
- Pará (39,8%)
No extremo oposto, os estados com menor proporção de empresas inadimplentes foram:
- Santa Catarina (24,5%)
- Espírito Santo (24,8%)
- Piauí (25%)
Esta disparidade regional reflete diferenças na estrutura econômica, acesso a crédito e capacidade de resistência a choques econômicos entre as diversas regiões do país.
Causas e perspectivas
O principal fator apontado por especialistas para o aumento da inadimplência empresarial é a manutenção de juros elevados. Atualmente, a taxa Selic está em 14,75% ao ano, o que encarece significativamente o crédito para as empresas, especialmente as de menor porte.
“Os micro e pequenos empreendedores acabam sendo mais afetados porque eles têm mais restrição na hora de conseguir um crédito bancário, o que dificulta a negociação de extensão de prazo ou acesso a outras linhas de crédito”, explica Camila Abdelmalack.
Outro fator relevante é a falta de informações estruturadas e garantias por parte das pequenas empresas. “O crédito parte de uma relação de confiança da instituição financeira com o tomador. As micro e pequenas empresas não têm balanço estruturado, não são auditadas, e essa precariedade de informações gera insegurança para concessão de empréstimo”, pontua Felipe Tavares, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio.
Para especialistas, a reversão desse quadro depende de medidas que facilitem o acesso ao crédito para pequenos negócios e da redução gradual da taxa de juros. Programas de renegociação de dívidas também são apontados como essenciais para que as empresas possam reorganizar suas finanças e voltar a operar com normalidade.
“A boa gestão do negócio é fundamental para manter as contas equilibradas”, recomenda Débora Souza, analista do Sebrae Minas. “Conheça e goste minimamente daquilo que você vai abrir. Entenda qual é o valor de investimento que você tem, quanto de valor você precisa, qual vai ser a precificação correta do seu produto para que você já não entre no prejuízo.”
Última atualização: 20 de maio de 2025
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