Gripe aviária: 16 países e UE suspendem importações de frango brasileiro

União Europeia e 16 países suspenderam importações de frango brasileiro após caso de gripe aviária em Montenegro (RS). Prejuízo pode chegar a R$ 2,6 bilhões.

Gripe aviária: 16 países e UE suspendem importações de frango brasileiro

Restrições podem gerar prejuízo de até R$ 2,6 bilhões em dois meses

A União Europeia e 16 países suspenderam total ou parcialmente as importações de frango brasileiro após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no município de Montenegro, Rio Grande do Sul. O anúncio da Comissão Europeia foi feito nesta segunda-feira (19/05), enquanto o Japão adotou uma abordagem mais regionalizada, restringindo apenas produtos específicos do estado gaúcho.

Países que suspenderam importações

A lista de países que impuseram restrições às exportações brasileiras de produtos avícolas cresce rapidamente. Segundo informações do Ministério da Agricultura e Pecuária, divulgadas após entrevista coletiva nesta segunda-feira, as suspensões se dividem em três categorias:

Suspensão total para todo o Brasil:

  • China
  • União Europeia (27 países)
  • África do Sul
  • Argentina
  • Bolívia
  • Canadá
  • Chile
  • Coreia do Sul
  • Marrocos
  • México
  • Paquistão
  • Peru
  • República Dominicana
  • Rússia
  • Sri Lanka
  • Uruguai
  • Malásia

Suspensão apenas para o Rio Grande do Sul:

  • Cuba
  • Bahrein
  • Reino Unido

Suspensão regionalizada (apenas Montenegro ou áreas específicas):

  • Japão (aves vivas de todo RS e produtos avícolas de Montenegro)
  • Singapura
  • Filipinas
  • Jordânia
  • Hong Kong
  • Índia
  • Paraguai
  • Vietnã
  • Emirados Árabes Unidos

“As condições de importação da UE exigem que o país de exportação esteja livre de Gripe Aviária Altamente Patogênica”, informou um porta-voz da Comissão Europeia em comunicado. “As autoridades brasileiras não podem mais assinar esses certificados de saúde animal para exportação para a UE, e esses certificados não podem ser emitidos.”

Impacto econômico das suspensões

O Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, pode enfrentar perdas significativas com as restrições impostas. Apenas os países que suspenderam totalmente as importações movimentaram cerca de US$ 3 bilhões (aproximadamente R$ 16,8 bilhões) em compras de produtos avícolas brasileiros no ano passado.

Em abril de 2025, esses mercados adquiriram US$ 280 milhões (R$ 1,6 bilhão) em frango brasileiro. Se as restrições durarem os 60 dias previstos em muitos protocolos sanitários, as perdas podem alcançar até US$ 470 milhões (R$ 2,65 bilhões).

A China, primeiro país a suspender totalmente as importações, representa um mercado crucial para o Brasil. Somente em abril, os chineses importaram US$ 127,1 milhões em frango brasileiro. Outros mercados importantes incluem:

  • México: US$ 44 milhões
  • União Europeia: US$ 35,3 milhões
  • Coreia do Sul: US$ 33,3 milhões
  • Chile: US$ 18 milhões
  • África do Sul: US$ 15,3 milhões

O Japão, terceiro principal destino do frango brasileiro, respondendo por 8,8% das exportações totais em 2024, adotou uma abordagem mais moderada. Em 2024, o Brasil exportou 422.979 toneladas de carne de frango para o Japão, com receita de US$ 855,7 milhões.

Diferentes abordagens de restrição

As respostas dos países importadores variam significativamente, refletindo diferentes protocolos sanitários e acordos bilaterais. Enquanto alguns países optaram por suspender todas as importações de produtos avícolas brasileiros, outros adotaram uma abordagem regionalizada.

O Japão, por exemplo, suspendeu apenas a importação de aves vivas do Rio Grande do Sul e de produtos avícolas especificamente de Montenegro, onde o foco da doença foi detectado. Esta decisão segue o acordo firmado entre Brasil e Japão em julho de 2024, que prevê a regionalização por município em casos de gripe aviária.

“A fim de tomar todas as medidas possíveis para evitar a entrada da doença no Japão, a importação de aves vivas do estado do Rio Grande do Sul foi temporariamente suspensa na sexta-feira, 16 de maio de 2025, e suspendemos temporariamente a importação de carne de aves e ovos frescos da cidade de Montenegro”, informou o Ministério da Agricultura japonês.

O comunicado japonês esclarece ainda que “a importação de aves vivas, carne de aves, ovos frescos com casca, entre outros, de países ou regiões afetados está suspensa para evitar que aves vivas mantidas no Japão sejam infectadas com o vírus, e não por razões de higiene alimentar”.

Contexto e medidas adotadas

O caso de gripe aviária foi confirmado na sexta-feira (16/05) em uma granja comercial de produção de matrizes de aves em Montenegro, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Este é o primeiro registro da doença em uma criação comercial no Brasil, embora o país já tenha registrado casos em aves silvestres e de subsistência desde 2023.

Em resposta à situação, o Ministério da Agricultura e Pecuária decidiu suspender temporariamente as exportações de carne de frango produzida no Rio Grande do Sul. A medida visa preservar a imagem do produto brasileiro no mercado internacional e acelerar o processo de retomada das vendas externas após o controle do surto.

Segundo Alcides Torres, analista da Scot Consultoria, “as autoridades agiram com rapidez ao suspenderem exportações da região afetada e iniciarem as ações sanitárias. Alguns países também já suspenderam as compras por 60 dias. Isso dá tempo para que todas as medidas sejam tomadas e os organismos internacionais comprovem que o Brasil agiu corretamente”.

O especialista ressalta que a doença não oferece risco à saúde humana, já que não é considerada zoonose, não sendo transmitida nem pela carne nem pelos ovos. “Além disso, o sistema de produção brasileiro, baseado em granjas fechadas e altamente controladas, dificulta ainda mais a disseminação do vírus”, afirma.

Perspectivas para o setor

Especialistas avaliam que as consequências econômicas serão limitadas, desde que o caso se mantenha isolado e as medidas de contenção sigam sendo adotadas com agilidade. Mauricio Palma Nogueira, diretor da Athenagro, acredita que a decisão da China deve ser revertida antes dos 60 dias de suspensão anunciados.

“O impacto da venda de frango para China é menor do que seria em caso de suspensão da compra de carne bovina, porque aí representa 40% do total exportado para os chineses. Portanto, a gente consegue diluir os destinos mais rapidamente, até porque a demanda por carnes no mundo está bem alta”, explica Nogueira.

No curto prazo, o excedente de produção poderá causar uma redução nos preços do frango no mercado interno brasileiro. No entanto, especialistas alertam que, no médio prazo, pode haver queda na produção, o que eventualmente levaria a um aumento de preços.

O Brasil exporta frango para aproximadamente 160 países, o que pode ajudar a amortecer o impacto das suspensões atuais, redirecionando parte da produção para mercados que mantiveram suas portas abertas ou que adotaram restrições apenas regionalizadas.


Última atualização: 20 de maio de 2025

Compartilhe este conteúdo: