

Atlas da Violência 2025 revela MS como líder em casos de violência contra idosos no ambiente familiar
Estudo divulgado pelo IPEA e FBSP mostra que estado tem altos índices de violência interpessoal contra pessoas idosas, apesar de registrar baixo número de idosos em situação de rua
O Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira (12) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), revelou que Mato Grosso do Sul lidera os casos de violência contra idosos dentro do ambiente familiar e entre conhecidos. O estudo, que analisa diversos tipos de violência no país, destaca o paradoxo de MS figurar entre os estados com menor número de idosos em situação de rua, mas apresentar índices alarmantes de violência interpessoal contra essa população.
Contraste entre dados de vulnerabilidade social e violência doméstica
Mato Grosso do Sul ocupa a 8ª posição entre os estados com menor número de idosos em situação de rua no Brasil, com apenas 169 pessoas cadastradas no CadÚnico. Este dado poderia sugerir uma boa proteção social aos idosos, porém o Atlas da Violência 2025 revela uma realidade preocupante quando se trata da violência no ambiente doméstico.
A violência familiar contra idosos é um fenômeno complexo e multifacetado que ocorre predominantemente no âmbito doméstico. Estudos anteriores já indicavam que cerca de 90% dos casos de maus-tratos e negligência contra pessoas com mais de 60 anos acontecem nos lares, tornando o ambiente familiar, paradoxalmente, um local de risco para muitos idosos.
Em MS, a situação se agrava pela dificuldade de denúncia e identificação dos casos, já que muitas vítimas dependem financeira ou emocionalmente dos agressores. Além disso, o estudo aponta que a violência contra idosos no estado frequentemente envolve abusos psicológicos, financeiros e negligência, além da violência física.
Perfil das vítimas e contexto da violência
Dos 169 idosos em situação de rua cadastrados em Mato Grosso do Sul, a maioria é composta por homens negros. Entre os 89 negros identificados, apenas três são mulheres. Entre os não negros, a proporção se mantém: 36 homens contra apenas três mulheres.
Porém, quando se trata da violência familiar, o Atlas da Violência 2025 indica que as mulheres idosas são as principais vítimas, especialmente de violência psicológica e negligência. Já os homens idosos sofrem mais com a violência patrimonial e financeira.
“A violência contra o idoso é uma das mais severas e desiguais formas de agressão, visto que há uma ampla relação de desigualdade do ponto de vista físico e psicológico”, explica um especialista em gerontologia. “Os déficits auditivo, visual, motor e cognitivo que o idoso apresenta o tornam ainda mais vulnerável, além do constrangimento diante dos outros familiares.”
Impactos na segurança pública e políticas de proteção
O Atlas da Violência 2025 também destaca que, apesar de MS ter registrado um aumento de 5,1% na taxa de homicídios em 2023, chegando a 20,7 por 100 mil habitantes, o estado ainda se mantém abaixo da média nacional de 21,2 homicídios por 100 mil habitantes.
Esse contraste entre a violência letal geral e a violência específica contra idosos sugere a necessidade de políticas públicas focalizadas para esse grupo populacional. Especialistas apontam que a subnotificação é um dos principais desafios para o enfrentamento da violência contra idosos, especialmente quando ocorre no ambiente familiar.
“É fundamental fortalecer os canais de denúncia e a rede de proteção ao idoso, além de capacitar profissionais de saúde e assistência social para identificar sinais de violência”, afirma um representante do Conselho Estadual do Idoso.
O estudo recomenda a implementação de programas de prevenção e intervenção que considerem as especificidades da violência contra idosos, incluindo campanhas de conscientização, fortalecimento dos Conselhos do Idoso e criação de serviços especializados de atendimento.
A publicação do Atlas da Violência 2025 reforça a necessidade de um olhar mais atento para a violência contra idosos em Mato Grosso do Sul, especialmente no ambiente familiar, onde os casos são mais frequentes e menos visíveis ao poder público.
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