Polarização na Câmara Municipal: até homenagens viram conflito em CG

Polarização política na Câmara Municipal de Campo Grande

Polarização na Câmara Municipal: até homenagens viram conflito em CG

Vereadores do PL e PT protagonizam mais um embate na sessão desta quinta-feira

A polarização política na Câmara Municipal de Campo Grande atingiu novo patamar na sessão desta quinta-feira (16/05), quando duas simples moções de homenagem apresentadas por vereadores do PL provocaram intenso debate e críticas do líder do PT na Casa. O episódio evidencia como o clima de tensão política tem transformado até procedimentos rotineiros em campo de batalha ideológica entre parlamentares de diferentes espectros políticos.

O caso das moções polêmicas

O estopim da nova controvérsia foram duas moções apresentadas por vereadores do Partido Liberal (PL). A primeira, proposta pelo vereador Rafael Tavares, manifestava apoio a um policial envolvido em uma ação que resultou na morte de um suspeito. A segunda, de autoria do vereador Salineiro, homenageava o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que participará de um evento na capital sul-mato-grossense nesta sexta-feira (17/05).

Ambas as propostas foram duramente criticadas pelo líder do PT na Casa, vereador Jean Ferreira. Em sua manifestação, o petista argumentou que a moção de apoio ao policial representa a “normalização” da letalidade policial. “Parabenizar matar? Cancelar CPF? Isso não é coisa de cristão”, declarou o vereador durante a sessão.

Jean Ferreira também se posicionou contra a homenagem ao deputado Nikolas Ferreira, conhecido nacionalmente por suas posições conservadoras e por ser um opositor notório dos petistas. O embate verbal entre os parlamentares elevou a temperatura da sessão e evidenciou a dificuldade de diálogo entre as diferentes correntes políticas.

Histórico de tensões na Casa

O episódio das moções não é um caso isolado, mas parte de um padrão de conflitos que tem marcado a atual legislatura da Câmara Municipal de Campo Grande. Em fevereiro, durante a abertura do ano legislativo, os vereadores haviam prometido “união de esforços, sem polarização”, com discursos defendendo que deveria prevalecer o interesse da cidade.

Na ocasião, o vereador Professor Juari, falando em nome da maior bancada, o PSDB, apontou um tom conciliador. “Não precisamos de cabo de guerra, o que precisamos resolver é Campo Grande. A cidade tem que estar acima de qualquer ideologia”, afirmou na época.

Contudo, a realidade tem se mostrado diferente. Em outra situação recente, durante uma sessão da CPI do Transporte Coletivo, o vereador Landmark Rios (PT) propôs uma mudança no regimento interno para permitir que vereadores que não fazem parte da comissão pudessem se manifestar durante as oitivas. A proposta provocou um bate-boca entre ele e o presidente da CPI, vereador Lívio Viana (União Brasil).

A divisão ideológica também se reflete na própria organização física da Câmara. Em janeiro, durante a reorganização dos gabinetes após a posse dos novos vereadores, ficou evidente a separação entre grupos políticos, com “PT de um lado e PL do outro”, como noticiado pela imprensa local.

Posicionamento dos parlamentares

A prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), reeleita em 2024, tem se posicionado contra a polarização política. Em entrevista recente à CNN Brasil, ela afirmou que “a polarização não foi positiva para ninguém” e destacou que “as cidades onde os avanços foram maiores são cidades onde o equilíbrio foi pautado”.

Segundo a gestora, o caminho para avançar com políticas públicas e melhorar a vida dos cidadãos é através do equilíbrio político e do diálogo entre diferentes forças. Adriane defendeu a necessidade de parcerias entre os diferentes níveis de governo, independentemente de posições partidárias.

Na Câmara Municipal, no entanto, o clima permanece tenso. O vereador Jean Ferreira (PT), que se posicionou contra as moções na sessão de quinta-feira, tem mantido uma postura de defesa das minorias desde o início de seu mandato. Em seu primeiro discurso na Casa, ele mencionou a necessidade de proteger grupos vulneráveis, citando casos como o assassinato de Vanessa Ricarte pelo ex-noivo e a exposição feita à professora trans que se fantasiou para receber crianças no primeiro dia de aula.

Por outro lado, vereadores do PL, como Rafael Tavares e Salineiro, têm defendido pautas alinhadas ao conservadorismo e às posições do ex-presidente Jair Bolsonaro, mantendo uma postura de oposição firme a temas progressistas.

Impactos da polarização no trabalho legislativo

A crescente polarização na Câmara Municipal de Campo Grande tem gerado preocupação quanto à eficiência do trabalho legislativo. Quando debates ideológicos se sobrepõem às discussões técnicas sobre projetos e políticas públicas, a população pode ser prejudicada pela demora na aprovação de medidas importantes para a cidade.

O presidente da Câmara, Epaminondas Neto, conhecido como Papy (PSDB), tem enfatizado desde o início da legislatura a necessidade de debates produtivos e respeitosos. No entanto, episódios como o das moções polêmicas demonstram que o caminho para um ambiente menos polarizado ainda é longo.

Especialistas em ciência política apontam que a polarização no nível municipal muitas vezes reflete tensões da política nacional, mas com consequências mais diretas para a população local. Quando vereadores gastam tempo e energia em embates ideológicos, questões urgentes da cidade podem ficar em segundo plano.

Para os cidadãos de Campo Grande, resta a expectativa de que, apesar das diferenças ideológicas, os parlamentares consigam estabelecer um mínimo de diálogo para avançar em pautas essenciais como transporte público, saúde, educação e infraestrutura urbana.

Última atualização: 16 de maio de 2025, 10:30h

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