

Medicamento para autismo: pesquisa busca crianças voluntárias em MS
Estudo da UFMS e UFMG está na quarta fase e já beneficiou 90 participantes
Pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) buscam crianças e adolescentes de 2 a 13 anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) para participarem da quarta fase de um estudo sobre medicamento para autismo. A pesquisa, desenvolvida há 10 anos, descobriu uma substância que pode inibir sintomas do TEA e agora precisa de voluntários que ainda não façam uso de outras medicações para o transtorno.
Sobre a pesquisa e o medicamento
O estudo conduzido pelas universidades federais investiga uma substância que age na molécula responsável pela síntese de proteínas no corpo humano. Segundo o coordenador da pesquisa, Dr. Durval Palhares, o medicamento atua principalmente na microbiota intestinal, área cada vez mais reconhecida como fundamental para o desenvolvimento neurológico.
“Nós queremos crianças que não estão tomando medicações prescritas por médicos. Por quê? Porque isso pode confundir com os nossos resultados. Muitas vezes os medicamentos podem sedar o paciente, e nós queremos ele do jeito dele mesmo”, explica Palhares.
O pesquisador esclarece que os participantes podem continuar com outras terapias não medicamentosas. “A criança pode continuar com ABA, TO, essas coisas, não tem problema. Nós vamos corrigir a microbiota intestinal e talvez prescrever algumas coisas à parte para suprir deficiências antes de tomar a medicação”, detalha.
A pesquisa já passou por três fases anteriores, que incluíram testes laboratoriais, estudos com animais e os primeiros testes em humanos. A quarta fase busca ampliar o número de participantes para confirmar a eficácia e segurança do medicamento antes que ele possa ser submetido à aprovação da Anvisa.
Resultados já observados em participantes
Cerca de 90 voluntários já participaram do estudo desde seu início, com resultados promissores relatados por familiares. Um dos casos de sucesso é o filho do consultor Valdir Ferreira Lima Júnior, que toma o medicamento há mais de dois anos.
“Descobrimos que ele tinha autismo de nível dois para três. Ele tinha problemas de agressividade, principalmente com ele mesmo. Não dormia bem, não se alimentava direito e não respondia quando a gente chamava”, relata Valdir.
Após iniciar o tratamento com a medicação experimental, aliada às terapias convencionais, o pai notou mudanças significativas. “Hoje ele é uma criança muito carinhosa, não tem nenhum tipo de agressividade. Já podemos dizer que ele é um autista nível dois”, comemora.
A evolução observada por Valdir alimenta a esperança de que seu filho possa ter uma vida cada vez mais independente. “A gente acredita que, com essa medicação e todas as terapias que ele faz, ele pode chegar a ser um autista nível 1, se estabilizar nisso e ter uma vida funcional tranquila”, projeta o pai.
Outros participantes também relataram melhorias em áreas como comunicação, interação social e redução de comportamentos repetitivos, que são sintomas característicos do TEA. Os pesquisadores ressaltam, no entanto, que os resultados variam de acordo com cada criança e que o medicamento não substitui as terapias convencionais.
Como participar do estudo
Famílias interessadas em voluntariar crianças e adolescentes com TEA para a pesquisa devem enviar os seguintes dados para o e-mail iapesvoluntario@gmail.com:
- Nome completo da criança
- Data de nascimento
- Peso
- Telefone para contato
- Informar se toma ou não medicamento para TEA
Podem participar crianças e adolescentes com idades entre 2 e 13 anos que não estejam utilizando medicamentos específicos para tratamento dos sintomas do TEA. Após o recebimento das informações, a equipe de pesquisa entrará em contato para agendar uma avaliação inicial.
O processo de seleção inclui uma entrevista com os pais ou responsáveis e uma avaliação da criança para verificar se ela atende aos critérios de inclusão no estudo. Os participantes selecionados receberão acompanhamento médico durante todo o período da pesquisa.
Desafios e perspectivas futuras
Apesar dos resultados promissores, a pesquisa enfrenta desafios, principalmente relacionados ao financiamento. O Dr. Durval Palhares destaca que a continuidade do estudo depende de recursos para a compra de substâncias e reagentes necessários.
“Às vezes a gente tem que comprar substância, reagentes e isso não é barato. A gente tendo recurso, vai direto, nós vamos lá e compramos. Nós não mexemos com dinheiro, o recurso vai para o nosso instituto, o IAPES [Instituto de Pesquisa, Assistência e Saúde]”, comenta o coordenador.
Para Valdir, que acompanha de perto os benefícios do medicamento, a esperança é que os investimentos cheguem logo para que mais famílias possam ter acesso ao tratamento. “Eu falo sempre com a minha esposa que a gente nunca foi de jogar, mas hoje a gente joga sempre na mega-sena, na loteria, porque eu falo ‘o dia que a gente ganhar, nós vamos patrocinar essa terapia deles, para que todas as crianças que precisem possam ter também'”, finaliza.
O IAPES também busca recursos para seguir com o estudo. Pessoas físicas ou jurídicas interessadas em apoiar a pesquisa podem obter mais informações no site do instituto: www.iapes.org.br.
Se o medicamento para autismo continuar demonstrando eficácia nas próximas etapas da pesquisa, poderá representar um avanço significativo no tratamento do TEA, oferecendo uma nova opção terapêutica para milhares de famílias brasileiras.
Última atualização: 16 de maio de 2025
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