Rota Bioceânica: como MS prepara rede de saúde para 3 novos desafios

Governo de MS reestrutura rede de saúde na fronteira para enfrentar impactos da Rota Bioceânica. Conheça o novo modelo com três níveis de atendimento.

Rota Bioceânica: como MS prepara rede de saúde para 3 novos desafios

Governo reestrutura atendimento hospitalar na fronteira com foco na regionalização

O Governo de Mato Grosso do Sul está implementando uma reestruturação estratégica da rede hospitalar na faixa de fronteira para enfrentar os impactos da Rota Bioceânica. O novo modelo, discutido durante o Encontro Binacional promovido pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) em Ponta Porã, organiza o atendimento em três níveis hierárquicos: atenção primária nas cidades de origem, média complexidade em polos regionais e alta complexidade concentrada em grandes centros como Campo Grande e Dourados.

Novo modelo de atendimento em saúde

A reorganização da rede de saúde na região de fronteira segue um planejamento estratégico que visa otimizar recursos e garantir atendimento adequado à população. O modelo propõe uma clara divisão de responsabilidades entre os municípios, criando um sistema mais eficiente e integrado.

No primeiro nível, as cidades menores concentrarão esforços na atenção primária e na estabilização de urgências mais complexas. Já o segundo nível prevê a concentração de serviços de média complexidade em cidades-polo como Ponta Porã, que servirão como referência regional. Por fim, o terceiro nível direciona os atendimentos de alta complexidade para os grandes centros como Campo Grande e Dourados.

“Esta reorganização permite um uso mais racional dos recursos de saúde, evitando duplicidades e garantindo que cada município tenha clareza sobre seu papel na rede”, explica o médico João Ricardo Tognini, integrante da Assessoria Técnica Médica da SES. “O objetivo é que o paciente receba o atendimento adequado no local mais próximo possível de sua residência.”

Desafios com a chegada da Rota Bioceânica

A implementação da Rota Bioceânica, especialmente com a construção da ponte sobre o Rio Paraguai ligando Porto Murtinho (Brasil) a Carmelo Peralta (Paraguai), trará novos desafios para o sistema de saúde da região. O aumento no fluxo de pessoas, o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico exigirão uma infraestrutura de saúde robusta e bem planejada.

“Além dos riscos associados à mobilidade, como acidentes e traumas, há a necessidade de ampliar o acesso à saúde preventiva e curativa em todas as complexidades”, destaca Tognini. A expectativa é que o tráfego intenso de veículos aumente significativamente o número de acidentes rodoviários, exigindo uma rede de urgência e emergência bem estruturada.

Outro desafio será o controle sanitário e epidemiológico, considerando o fluxo internacional de pessoas. Doenças endêmicas de outros países podem encontrar novas rotas de transmissão, exigindo vigilância redobrada e cooperação internacional em saúde.

O crescimento populacional esperado, tanto permanente quanto flutuante, também pressionará os serviços de saúde existentes. Cidades como Porto Murtinho, que hoje têm menos de 20 mil habitantes, precisarão se preparar para um aumento significativo na demanda por serviços médicos.

Cinturões de média complexidade: a estratégia central

Uma das principais inovações do plano é a criação de “cinturões de média complexidade” ao redor dos polos de alta complexidade (Campo Grande, Dourados e Três Lagoas). Neste modelo, municípios estrategicamente posicionados assumirão, gradativamente, atendimentos de média complexidade, como cirurgias gerais, ortopedia, urologia e ginecologia.

Esta estratégia visa três objetivos principais:

  1. Reduzir deslocamentos longos de pacientes
  2. Desafogar os grandes hospitais estaduais
  3. Racionalizar a ocupação de leitos, garantindo vagas para casos graves

“Os cinturões de média complexidade funcionam como um filtro qualificado, resolvendo localmente o que não precisa ser encaminhado para os grandes centros”, explica Tognini. “Isso garante que hospitais de referência, como o Regional de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, possam focar nos casos que realmente demandam alta complexidade.”

A SES está apoiando os municípios na estruturação de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em pontos estratégicos, embora a implantação seja responsabilidade das gestões municipais. Essa rede de urgência e emergência será fundamental para o primeiro atendimento e estabilização de pacientes antes de possíveis transferências.

Casos específicos: Porto Murtinho e Ponta Porã

Porto Murtinho, cidade que será diretamente impactada pela ponte internacional sobre o Rio Paraguai, receberá atenção especial no plano de reestruturação. Com menos de 20 mil habitantes e sem serviços hospitalares de maior complexidade, o município terá sua atenção primária fortalecida para lidar com o aumento da demanda.

“Em Porto Murtinho, o foco será na capacidade de estabilização e no sistema de regulação eficiente. Casos que exijam maior complexidade serão direcionados para cidades de apoio como Ponta Porã”, detalha Tognini. A cidade também deverá contar com um sistema de transporte sanitário adequado para transferências rápidas e seguras.

Já Ponta Porã, com mais de 90 mil habitantes, assumirá papel central como polo de média complexidade. O Hospital Regional da cidade, que conta com 127 leitos, passará por ampliações estratégicas para atender demandas cirúrgicas e clínicas mais complexas.

“Estamos estudando a ampliação da oferta de especialidades como ortopedia e urologia em Ponta Porã, com investimentos em tecnologias como videocirurgia”, afirma o representante da SES. Além disso, haverá reforço na regulação estadual para evitar que casos simples ocupem leitos de alta complexidade.

A localização estratégica de Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai, também exigirá atenção especial para questões de saúde binacional. O recente Encontro Binacional promovido pela SES na cidade discutiu justamente a integração dos serviços de saúde entre os dois países, buscando soluções compartilhadas para desafios comuns.

Perspectivas futuras para a saúde na região

A reestruturação da rede hospitalar na faixa de fronteira representa um passo importante na preparação de Mato Grosso do Sul para os impactos da Rota Bioceânica. No entanto, o sucesso do plano dependerá da continuidade dos investimentos e da cooperação entre diferentes níveis de governo.

“Este é um processo contínuo que exigirá monitoramento constante e ajustes conforme a realidade se apresente”, pondera Tognini. “A Rota Bioceânica trará benefícios econômicos inegáveis, mas também desafios que precisamos antecipar.”

A SES prevê a realização de novos encontros binacionais para fortalecer a cooperação internacional em saúde, especialmente com Paraguai, Bolívia e Chile, países que integram o corredor bioceânico. A troca de informações epidemiológicas e a padronização de protocolos de atendimento serão fundamentais para enfrentar desafios sanitários comuns.

Para os moradores da região de fronteira, a reestruturação promete melhorar o acesso a serviços de saúde mais próximos de suas residências, reduzindo a necessidade de deslocamentos para os grandes centros. Ao mesmo tempo, o fortalecimento da regulação garantirá que, quando necessário, o acesso à alta complexidade ocorra de forma ágil e eficiente.


Última atualização: 21 de maio de 2025

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